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segunda-feira, setembro 11, 2017

Ideias Para Melhorar o Brasil

Escrito em setembro de 2017, num período de muita crise política no país, a meu ver encaminhada para o restabelecimento de alguma ordem e algum progresso.

1)    Terminar a faxina
2)    Enxugar radicalmente o Estado. Para mim o padrão é a Suécia: 10 ministérios ou menos.
3)    Ênfase em Educação – sem ideologias. Aqui o modelo é o da Finlândia e o da Coréia do Sul
4)    Saúde com ênfase em saneamento básico e medicina preventiva.
5)    Acabar com todas as agências reguladoras criadas por FHC.
6)    Transformar todos os tribunais superiores em departamentos do Ministério da Justiça. Vai ficar mais barato aposentar todos os funcionários e fechar todos os tribunais superiores.
7)    Reduzir o tamanho do legislativo nos 3 níveis. Acabar com a remuneração dos vereadores.
8)    Fortalecer a justiça de primeira instância com forte supervisão da sociedade.
9)    Ao político ou ao servidor público não bastará ser honesto, terá que parecer honesto. A reputação ilibada terá que ser o primeiro item do CV.
10) Acabar com o foro privilegiado para quem quer que seja. Não haverá tribunais superiores, lembra?
11) Reduzir drasticamente a burocracia (fonte de muita corrupção).
12) Transparência. Todos os dados do governo terão que estar disponíveis para a sociedade.
13) Reformar o sistema prisional, transformando-o em colônias agrícolas, e a família do preso terá que pagar ao governo metade das despesas com o preso; a outra metade será paga por ele próprio, trabalhando nas colônias agrícolas ou setores produtivos compatíveis.
14) Reduzir o número de partidos políticos para 5, no máximo.
15) Voto impresso.
16) Os funcionários públicos que entraram sem concurso deverão ser treinados e submetidos a provas; caso passem devem ser redistribuídos para os setores com mais necessidade de pessoal.
17) Campanhas eleitorais sem horário político gratuito, substituído por programas de debates seguidos de mesas-redondas.
18) A prestação de contas dessas campanhas deve ser rigorosa, sendo proibida a associação com a atividade privada. Financiamento público parcial, 50%. Os 50% restantes a cargo da legenda. 
19) Prestação rigorosa de contas junto à receita federal, de todos os candidatos para todos os cargos.
20) Ficha limpa
21) Acompanhamento mensal aos usuários dos benefícios sociais com revisões periódicas. Oferecimento de cursos profissionalizantes como contrapartida à participação dos benefícios sociais.
22) Nenhum vereador será remunerado. Sem gabinetes e sem verba, portanto. O vereador pode e deve ter sua profissão e exercer a vereança em seu tempo livre, como ocorreu até a década de 60. O vereador tem que ser encarado como alguém que está bem intencionado e não alguém que quer fazer "um bico" na política. O fato concreto é que os vereadores trabalham pouco e gastam muito. E com raras exceções, são susceptíveis de serem cooptados pelo executivo, poder que devem fiscalizar.












sexta-feira, fevereiro 13, 2015

Colorado, Montanhas Rochosas e Red Rocks

Olha aqui. Vou ser bem sincera. Tento entender as Montanhas Rochosas não é de hoje. É uma cadeia escorregadia que já foi vista por mim na British Columbia, Canadá, e no Novo México, EUA.
Ela é linda e deslumbrante e está majestosa no Colorado formando aquele paredão genial, do mesmo jeito como é visto em Vancouver.



Foto tirada com muito favor quando o guia deu uma paradinha em cima de um viaduto e, voilà, as Montanhas Rochosas bem ao fundo!
As Red Rocks são formações rochosas que deram nome ao rio e ao estado do Colorado. Os brasileiros espertos sabem que "red" quer dizer vermelho em inglês e "colorado" em espanhol.
Aliás, olha aqui, eu nem ia falar sobre isso, mas o que o Reino da Espanha andou aprontando por aqui só não está muito claro pra maioria dos norte-americanos, não por nada, apenas porque é assim que é. Montana, Colorado, California, Nevada, Arizona, Novo México, Texas, Flórida, tá bom pra vocês? Tudo colonização espanhola, me deixem.
Às vezes esqueço que o maior país de colonização espanhola, o México, está aqui na América do Norte! 
Às vezes esqueço que quem descobriu a América não foram os americanos! Não foram os ingleses, nem os franceses, nem os holandeses, e os portugueses muito menos! Isso! Foram os espanhóis, não assim tão claramente, pois Colombo talvez fosse italiano, mas quem deu "as ordi" foram os reis da Espanha, ué, convivamos com isso!
A galera que veio no Mayflower e se instalou no nordeste americano pode se considerar os verdadeiros colonizadores da América, até porque espanhóis e franceses são os típicos conquistadores - não gostam de ficar e criar família, essa é que é a verdade. Digo isso enquanto conquistadores de territórios, e reconheço que se trata de uma meia-verdade porque boa parte do continente americano é até hoje espanhola. Não sei por que cargas d´água o Brasil escapou dessa, foi tristemente rejeitado pelos franceses e holandeses e, enfim, viva os portugueses!, nada de ingratidões numa hora dessas. Deus sabe que tem um propósito pra esse Brasil e sua língua portuguesa exclusiva no continente americano. Mas só Deus sabe, somente Ele.
Voltando às Red Rocks: são bem bonitas pessoalmente e vocês já sabem como os americanos operam, né? Otimizam tudo, deixam tudo um brinco, de modo que nesse conjunto de rochas que, encabuladamente informo a vocês, tem cerca de 300 (trezentos) milhões (milhões!!!) de anos - fico sinceramente encabulada por não conseguir compreender o que sejam milhões de anos diante de mim, em monumentos e elementos que posso ver e desfrutar. É uma forma bem tosca de disfarçar a pobreza de nossos 80 ou 100 anos de duração nessa terra, só pode.
Nessas Red Rocks construíram um anfiteatro onde os Beatles tocaram em 1964, entre outros, entre outros. Vou te contar, hein?
Nesse anfiteatro os fitness irritantemente sobem e descem as escadarias quando não tem show, bem, show tem, né? Assim eles pensam.
Concluindo esse papo e já introduzindo um próximo post, como é complicado entender a presença dos ameríndios, esses que, coitados, já de saco cheio de tanto frio, desceram do polo norte, isso mesmo, os esquimós, e criaram e desenvolveram culturas tão magníficas no continente americano! Andando por essas estradas sempre vejo placas "Você está entrando [ou saindo] do território dos índios... tais e tais e tais" (Apaches, Sioux, Navarros, Cherokees). Fico sem muita vontade de entrar nessas reservas com medo de encontrar aquelas inomináveis quinquilharias "made in China". Não dá, não dá. Só digo que a situação dos índios americanos não parece ser nada melhor que a dos índios brasileiros, dos índios sul-americanos, dos índios em geral, dos índios.






Denver: 300 dias de sol por ano

A primeira coisa que a gente pensa quando vai viajar para o Colorado no inverno é que vai enfrentar temperaturas muito baixas e toneladas de neve, que engano! Na verdade, o Colorado nem é o estado mais ao norte dos EUA, acima dele estão o Wyoming e Montana. E, incrível!, abaixo dele o desértico Novo México e abaixo dele, o México.
Ficamos com essa idéia por causa das estações de esqui em Aspen, Vail - sem falar na charmosíssima Breckenridge, que é uma cidadezinha histórica bem bonitinha.
O que eu não sabia é que: o Colorado pertencia inicialmente ao estado de Kansas e que sua base de terreno é o deserto. Não admira que morri de tédio dirigindo direto e reto na I-70W (ida) e I-76 e I-80 E (na volta). Já no limite entre Kansas e Colorado comecei a notar que a altitude só aumentava. Quando cheguei em Denver a Gepeéssa marcava 1.600m em contraste com os 300m que temos aqui em Kansas City, MO.
Fico feliz em saber que Denver é uma cidade boa pra morar devido à essa estabilidade do clima, à segurança e ao custo de vida baixo em relação a outras capitais - especialmente as capitais costeiras. Digo isso porque por mais que eu tenha quebrado a minha cabeça pra entender a cidade, pra sentir a cidade, pra definí-la, não consegui. E, não. Não moraria em Denver, pelo menos à primeira vista. Fiquei com a sensação de que Denver pode se apresentar feíssima, como o faz na chegada e na saída por causa dos muitos viadutos de aspecto sujo, como pode se mostrar uma cidade compacta, diferente de Kansas City, por exemplo, onde notoriamente a cidade se divide em downtown, norte, sul, leste e oeste. Me pareceu, durante o city tour, que Denver é mais compacta, mas pode ter sido apenas uma impressão, já que na saída vi ao longe um enorme conglomerado urbano. Bem. A área metropolitana de Denver, disse-nos o guia, é de 2 milhões de pessoas. Você anda por lá e está sempre a um passo de cair de um county pra outro. É como  você em Araruama estar a dois passos de Saquarema, mais ou menos assim. Enfim, o city tour pela cidade me mostrou repetidamente, eis que nosso guia andou em círculos, que Denver tem uma parte bem compacta, com Jardim Botânico, Zoológico, Capitol, bairros chiques e bairros revitalizados, praticamente vizinhos uns dos outros.
É bacana ver aqui nos EUA o enfrentamento da situação urbana mais caótica e/ou menos privilegiada. Os cabras fazem logo uma revitalização, constróem um ou mais parques, enfim, abrem um leque de opções para o cidadão.
O transporte em Denver é muito peculiar: não tem metrô, tem pouquíssimas linhas de ônibus, um monotrilho que só serve ao centro da cidade, mas o que tem de ciclovias não está no gibi! Denver tem a maior malha de ciclovias interligadas do país! Vi com meus próprios olhos o quanto essas ciclovias são inteligentes e descoladas das ruas movimentadas e "perigosas". O rio Cherry Creek (considerado aqui um regato)  corta a parte mais central de Denver, e é ladeado em ambas as margens por ciclovias seguras e ecológicas. 
Conotação cinematográfica: na região de Denver Charles Deaton construiu a sua "Sculpture House", que serviu de locação para "O Dorminhoco", filme de Woody Allen.
Também em Denver foi filmado "O Iluminado", com Jack Nicholson.
Por incrível que pareça, não vi nem um nem outro. Pior: não fiquei a fim de ver.
 Essa foto do Capitólio de Denver só foi possível pq botei o sol atrás do poste de luz.
Casa Esculpida, cenário do filme "O Dorminhoco"

quarta-feira, fevereiro 04, 2015

Trinca De Reis Em Memphis

Em 1925 nasce o primeiro King, B.B.King, considerado o sexto maior guitarrista de todos os tempos pela revista Rolling Stone.
Em 1929 nasce o segundo King, Martin Luther King Jr., Pastor protestante e ativista dos direitos civis nos EUA.
Em 1935 nasce o terceiro King, este sem king no nome ou na alcunha, porém de fato e de direito o maior rei da cultura pop mundial. Elvis Aaron Presley, tão pobre quanto B.B.King e do mesmo Estado do Tennessee. Como seu colega músico, nasceu numa cidadezinha pequena e se mudou para Memphis, a Meca da música naqueles tempos.
O primeiro ainda está vivo e completou 88 anos em 16 de setembro passado.
Os outros dois Kings morreram jovens, muito jovens.
Os reis da música saem de suas pequenas cidades do Tennessee e vão para Memphis onde a glória e a fortuna os esperam. Essa cidade de Memphis fica na confluência de 3 estados americanos (Tennessee, Mississipi e Arkansas),  banhados e cortejados pelo rio Mississipi, sendo ele próprio uma lenda, uma entidade viva na cultura americana. É tão bonito de se ver no mapa, desde sua nascente no Lago Itasca em Minnesota até o seu delta no golfo do México. É, ele mesmo, um notável rio de inspiração musical e literária. Confiram.
Estando Memphis às margens do Mississipi é natural que tenha capturado todo o espírito cultural americano, oras, é um rio que corre de norte a sul, atravessa 10 estados americanos, grande parte deles são os mais afetados pela mistura étnica, melhor dizendo, pela influência dos negros, da pobreza, e da falta de glamour. É aí que mora o perigo. Ninguém fez boa música esquiando em Vermont, não que eu saiba.
Elvis cantou seus males nos tristíssimos negro spirituals na Assembléia de Deus de Tupelo, onde nasceu, e ganhou seu primeiro concurso aos 10 anos de idade, num show de talentos na "Feira Mississipi-Alabama". Nesse dia ele cantou a música "Old Shep", que fala do desespero de um menino que perdeu seu cão. Um menino da Nova Inglaterra poderia fazer isso, mas ele teria que ser o atípico menino da Nova Inglaterra, sem pais ricos, sem esquiar e sem uma segunda casa em Hamptons.
Não faço apologia à pobreza, a vida é que faz apologia às dificuldades. No pain, no gain, já ouviram essa, não é?
B.B.King não foi menos afortunado que Elvis: Começou ganhando uns trocados cantando numa esquina qualquer.
Elvis foi adepto do exagero, até porque tinha uma extensão vocal privilegiada, e não apenas isso, tinha mau-gosto mesmo, e se vestia quase que como uma drag queen, porém, isso em nada afetou o seu talento, ao contrário. Não fosse o seu topete, seus lábios carnudos, seus movimentos de quadril insinuantes, não fosse a imensa fortuna que fez de um dia para o outro, seus muitos carros e motos, seus dois aviões que não eram pequenos, sua mansão em Graceland, não fosse o galã, o bonitão, não fosse ele um ser humano inconfundível, um exagerado, não fosse ele ter ido pra guerra e ter encontrado na Alemanha o amor de sua vida, não fossem seus filmes água-com-açúcar, não fossem esses lances espetaculares em sua trajetória, talvez o mito não tivesse se construído de forma tão marcante na vida das pessoas, não importa quantas gerações passem. De alguma forma que não sei explicar, Elvis não morreu.
Em 14 de outubro de 1964 Martin Luther King recebeu o Prêmio Nobel da Paz, o que trouxe honra para ele e seus liderados, e uma tremenda dor de cabeça para Lyndon Johnson, enxaqueca essa que o FBI resolveu de forma muito eficaz no dia 4 de abril de 1968, quando ele tinha apenas 39 anos, mulher e 4 filhos menores.
Vamos arrumar essa trinca de reis: Luther King se foi deste mundo com 39 anos de idade. Presley, com 42 e B.B.King, que não se meteu com nada que não fosse a sua adorada Lucille, está vivo até hoje, cheio de prêmios e muito mimado pela Gibson Guitar Co.
A trinca de reis, de uma forma ou de outra teve seu destino ligado à cidade de Memphis. Elvis morreu de overdose medicamentosa, Luther King foi assassinado e, a bem da verdade, não estou bem certa se B.B.King vive atualmente na cidade. Parece que sim.
A unir Elvis e B.B.King encontramos John Lennon, dizendo sobre Elvis: "Before Elvis was nothing" e sobre B.B.King: "... minha maior ambição é tocar guitarra como B.B.King".
A riqueza musical e artística que havia em Elvis não cabia nele, enquanto que a mesma riqueza cabia em B.B.King tão bem cabida que ele consegue ser minimalista no excesso. Segundo suas palavras, "posso fazer uma nota valer por mil".
Que bacana que há espaço para todos os estilos e todas as formas de expressão artística! E que a riqueza pode ser exuberante tanto quanto pode ser contida.
Luther King encontrou seu destino final longe de casa. Estava se preparando para uma de suas marchas em Memphis quando foi assassinado num motelzinho chulé em downtown.
Uma trinca de reis que se consagrou numa tríplice fronteira, às margens do lendário Mississipi. Dois deles encontraram a morte cedo demais e o remanescente dos três continua por aqui, para contar esta e muitas outras histórias.



Esses 2 carros continuam em frente ao quarto 306 do Motel Lorraine, onde Luther King se hospedou na véspera de ser assassinado.

sábado, janeiro 31, 2015

Selma

Eu e minha companheira de viagem concluímos que não existem muitas cidades com nome de mulher. Vamos nos conformar com a configuração machista do mundo, entendendo que há contrapartidas que favorecem muito as mulheres, e que, infelizmente e naturalmente, são quase incógnitas tanto para homens quanto para mulheres.
Vou dar apenas um exemplo: vocês sabiam que geneticamente todos os embriões são femininos até a 6a. semana de gestação? Ou seja, originariamente, embrionariamente, a menina não sofreu nenhuma mutação da concepção ao nascimento. Suas gônadas permanecem as mesmas, da 1a. semana até à última. Já o menino, que vinha desde o início com o par de cromossomos X, repentinamente perde um X e ganha um Y. Não é à-tôa que com esse duplo X as mulheres sejam tão indesvendáveis e os homens com esse Y sejam tão previsíveis, hehe.
Não era esse o exemplo que eu tinha em mente, fica pra uma próxima.
Selma é o nome de uma cidadezinha no Alabama, que foi palco em 1965 da famosa Marcha liderada por Martin Luther King, em sua luta pelos direitos iguais para os negros.
O que mais impressiona no filme SELMA, produzido e um pouco protagonizado por Oprah Winfrey, ah, tem Brad Pitt na produção também, e um elenco verdadeiramente estelar, o que mais impressiona é o tempo. Em 1965 os EUA eram um caldeirão de conflitos raciais, algo impensável e inacreditável nos dias de hoje. E foi a apenas algumas décadas atrás! Era muito peculiar que aos negros, cidadãos americanos, eram negados os mais básicos dos direitos, mesmo aqueles que já estavam garantidos por lei. É como se uma superdose de intolerância estivesse circulando nas veias dos "outros" americanos. Muito diferente de xenofobia. Era a aversão ao diferente, e ao que nascia com o estigma da escravidão e minusvalia.
Selma é um filme lento, talvez porque a diretora não quisesse fazer nada explosivo, talvez porque o roteiro tenha entrado no ritmo dos pensamentos de Martin Luther King, um camarada bastante inflamado nos discursos e muito pacífico na ação. A cena em que pela segunda vez tentando atravessar uma ponte em Selma, uma vez que as tropas deram passagem para os manifestantes, Luther King se ajoelha, ora e retrocede, provoca nos companheiros uma reação muito negativa, à qual ele responde: prefiro que me odeiem a que haja mais sangue correndo pelas ruas.
Fez-me lembrar Moisés, que apesar de estar lidando com forças sobrenaturais, é considerado o mais humilde dos proeminentes de Israel. Luther King não pensava em si, não pensava na marcha de hoje, pensava nos direitos consolidados de amanhã.
As cidades com nome de mulher podem ser numericamente inferiores, com suas dores, lutas e mortes, mas são como verdadeiros himalaias: aguentam as tormentas e nos contam suas histórias.
Acho que Selma pode ganhar um dos Oscars a que concorre.

quinta-feira, dezembro 11, 2014

Orgânico, Gluten Free, Guilt Free

Dia nublado, friozinho, bom pra ir pro estado vizinho fazer mercado. Se eu assentar praça no Brasil já sei que vou dar um jeito de criar galinhas e cabras e ter uma horta. 
Aqui na terra do business nada é mais incentivado a viver sob rigorosa patrulha que a comida. Come-se muito mal e muito bem por aqui, só depende do freguês.
O fato é que um mercado enorme como esse pede, suplica, implora pra ser segmentado. Assim, olho nos rótulos, pois é mais importante saber o que NÃO tem. Exemplo: a granola "go raw", já traz uma faixa no pacote dizendo 'NO AGAVE', este, uma das inúmeras fontes de açúcar usadas por aqui, que do mesmo jeito que é recomendada, é rejeitada, como é, aliás, tudo em nossa pouco pacata trajetória existencial-estomacal.
Junto com o agave, está o xarope de milho, que já teve os seus dias de glória, mas hoje é afugentado mais que o diabo pela cruz. Mas vamos em frente: Gluten Free, Wheat Free, Nut Free, No GMOs, No Trans Fats, No Cholesterol. Ou seja. Comer "No Guilt"  é que são elas. 
No reino animal a coisa piora ainda um pouco. Trata-se de saber que o boi e a galinha (e o porco) foram alimentados com produtos naturais, não receberam antibióticos ou hormônios e tiveram um manejo familiar. Sim, Quanto mais o produto for do pequeno proprietário, mais o rótulo ganha status.
Dizer que um produto é 100% orgânico já não é suficiente. Você tem que detalhar que ele não foi processado, multi-processado e nem recebeu uma dosezinha extra de qualquer elemento químico que no momento esteja vivendo a sua fase maldita.
A onda agora é que as sementes estejam organicamente germinadas (sprouted). A onda é o leite de amêndoas - por sinal, bem gostoso - mas não o leite que é vendido nas embalagens longa vida. Você tem que comprar as amêndoas, lavá-las e deixá-las de molho até que fiquem livres de tooooodo aquele agrotóxico. Aí você põe as amêndoas para torrar por mais ou menos umas 12 horas, e só assim você pode falar em algo 100% orgânico. Bem, 100% orgânico no caso citado, seria você ter uma amendoeira no quintal.
O fato é que temos aqui, como aí, as prateleiras com os legumes orgânicos. E o que vemos? Cenouricas magricelas e pálidas; algumas raízes que de tão deformadas e feias, sequer imaginamos o que sejam; cebolitas e batatitas anãs.
Ao lado, as prateleiras dos que não se apregoam orgânicos reluzem de legumes rechonchudos e coloridos.
Se fossemos comer com os olhos, engoliríamos todos os agrotóxicos e os geneticamente modificados do planeta, pois sua beleza põe mesa.
O fato é que minha amiga tem fornecedores de frangos, de carne bovina, de frutas e de legumes, e seus filhos um dia vão agradecer a ela por livrá-los de tanta química. Mas será que daqui a 10 anos esses meninos encontrarão um mercado com boas e honestas opções?
Sinceramente, não creio.
Creio em 2 cabras, 1 bode, 3 ou 4 galinhas e uma horta.
O resto é pra ler o rótulo com espírito de Holmes e alma de Watson. Ou, e é o que a maioria faz, entregar pra Deus.

quinta-feira, dezembro 04, 2014

Gerundiando

A Via-Crucis num Call Center de empresa de telefonia (vão vendo) só é comparável a um parto na roça com parteira fumante e não tomante de banho.
Às 10:29 falo com JACIANE que me passa pra Patrícia e esta pra NIEDJA.
- Olha, quem sou eu pra falar de nomes esdrúxulos, né? Agora, se eu sou dona de um Call Center, eu ia criar nomes de guerra, viu? Tudo nomezinho facinho: Maria, João, José, Pedro, Paulo, Ana, Vera, Sonia... O tempo (e dinheiro) que se perde pedindo à pessoa pra repetir o nome num atendimento via fone é imenso. Nem vou falar na paciência e, subsequentemente, no desgosto de se ver tão (mal) acompanhada em matéria de nome "diferente".
Pois até que entabulo uma conversa bem maneira com a Niedja, que me ensina que a culpa é dos russos (pelo sotaque da moça, penso logo no pai dela, um nordestino bem arretado, bem comunista, e bem ruim de entender que Nadia nada a tem a ver com Niedja).
Niedja então me encaminha para o setor de Análise de Fraude onde receberei um protocolo.
Logo nesse setor, tão crítico, sem-Orr!, alguém esbarra em alguma coisa e puft, a ligação volta ao menu inicial.
Sou atendida pelo Igor (vão vendo se isso não é uma conspiração comunista?!) que ficou falando assim: entendo, só mais um momento, me informa o n. do telefone para eu estar te ajudando. Depois de gerundiar bastante, me deixou no ar. Isso porque os seres do Call Center são incrédulos, claro!, tudo comunista!!! Ele não acreditou que eu JÁ estava sendo atendida pelo setor de Análise de Fraude e quis começar tudo outra vez.
A ligação caiu.
- Olha. Tem certas horas que a ligação cair é até uma bênção, viram? Não sei que lei que tem no Universo que todos os call centers tem que estar com todos os áudios abertos e que todos os fios desencapados do mundo tem que "estar passando" por aquele tráfego naquele exato momento! Mas deve ter uma lei no Universo, sim. Uma lei bem safada e co-mu-nis-ta!
E tive que ligar novamente, oras!
Às 10:58 atende a Cláudia (olha aí um nome normal, fácil de entender: só não digo o mesmo do sotaque da moça. Deve haver uma lei no Universo co-mu-nis-ta e ateu que diga: só gente com sotaque carregado é que pode trabalhar em call center, visse?)..
Cláudia me passa pra Hosana, cujo nome eu elogio (sim, hoje não estou com nenhum miasma comunista me pespegando - ai... agora me deu uma saudade do João Ubaldo Ribeiro...), e deixo a moça contente nas alturas sem cessar!
Hosana me passa pro Luciano, já são 11:33, tenho compromisso longe de casa às 12:30!
Luciano já chega gerundiando: vou estar analisando o número que a Sra. desconhece.
Ok.
Nesse momento, aproveito para "estar limpando" a minha bunda, pois a lei dos semelhantes é tiro e queda, fez meus intestinos funcionarem, me perdoem a deselegância.
Fico à mercê do Luciano por uns 10 minutos, quando de repente, assim meio que tipo "uêpa! vamu trabalhar!", ele começa a fazer perguntas notoriamente investigativas (a criminosa comunista safada sou eu, no caso).
A Sra. conhece:
Maria de Lourdes Gomes?
Marta do Nascimento Santos?
Maria das Graças Depolo?
Bem, eu digo que conheço uma Maria de Lourdes Gomes, mãe do meu cunhado, mas ela mora em SP! Logo depois me lembrei que ela é Maria de Lourdes Filgueiras Henriques Gomes (preferi me calar).
Às 11:50 entra quem estava faltando: a musiquiiiiiinhaaaaaaaa!
- Momento de pânico: Luciano me pergunta "se a ligação cair pra que número eu posso ligar?".
Digo a vocês que foi uma lenha ele entender duas coisas:
1) o código de área daqui tem 3 dígitos
2) o número de celular daqui SÓ TEM 7 digitos e não começa com 9!!!!!
Às 11:53 o Luciano me diz (aleluia! hosana! jaciane! niedja!) as esperadas palavras: vou cancelar a linha, desconsiderar o débito (sim, o comunista fraudador já tava falando, e é muito!!!) e, ao ser perguntado, disse que automaticamente meu CPF está bloqueado para novos contratos.
Aleluia! Hosana nas Alturas! Jaciane e Niedja Sem Cessar!
Se algum comunista-safado estiver pensando em usar meu CPF na Oi, vai se ferrar bo-ni-to!
N. do Protocolo: xxxxxxxxxxxxx
Finalizado às 11:57 daqui.

Milagres Acontecem

Milagres acontecem, e nem estou falando apenas no modo sardônico, não agora.
Primeiro milagre: alguém De ou EM Araruama, usando meus dados pessoais, fez um contrato de celular na Oi. Tenho um excelente amigo q trabalha na Oi, e assim termina a minha relação com a Oi.
Segundo milagre: orientada por esse amigo, liguei agorinha meRmo prum fixo da Oi.
Terceiro milagre: fui devidamente atendida e encaminhada para o setor de xxxxxgência cadastral. Amigos. O que é a pessoa estar ligando pro BR na madrugada do BR e não conseguir entender a primeira de duas palavras faladas com sotaque nortista? Emergência? Contingência? Excelência? Excrescência? Demência? (Opa, tá esquentando, começa com D!!!).
Quarto milagre: a ligação não caiu.
Quinto milagre: entendi! Divergência Cadastral! Divergência, sem-orrrrr da glória, como não pensei nisso?
Sabotagem do milagre, parágrafo único: o horário de atendimento da Divergência Cadastral é de 8-21.
Sexto milagre: a linha já está bloqueada!!!
Esse meu amigo é ou não é o tal?

sábado, novembro 22, 2014

Mundo Made In Java

Tem horas que a gente acredita que D´us virou as costas e foi bufar num cantinho do céu e tem horas que a gente tem certeza de que  D´us largou mesmo tudo de mão.
D´us largou mesmo de mão e não está tomando qualquer conhecimento do fato de que o mundo inteiro entregou suas commodities nas mãos de Java.
Tirando umas raras raríssimas exceções - e estas referentes aos bens intangíveis, como é o caso da invenção, descoberta ou criação de produtos e serviços - está tudo nas mãos de Java.
Todos conhecem o meu sentimento por Java, que admito aqui sem qualquer problema, é parcial e injusto, mas é o que temos para o momento com base em experiência pessoal.
Eu gostaria de estar agora num mega mercado na Alemanha só pra fuxicar as etiquetas. Quem estiver por lá pode confirmar que alguns países como a citada Alemanha, e como a Inglaterra e talvez França, têm lá seus pruridos e disfarçam Java em Paquistan, Vietnan, Honduras, India, o que seja,  o fato é que a Ásia é considerada a plataforma industrial do mundo, por aí vocês vão vendo. Java superou EUA e Japão, mas eu digo, como fuxicadeira de etiquetas que sou, entre 100 "Made in Java" não encontro nenhum "Made in Japan" e encontro alguma coisa quinquilharinesca "Made in USA". Não peçam a minha opinião sobre quinquilharias feitas nos EUA pois eu vou duvidar seriamente da nacionalidade desses operários.
Também não me perguntem se concordo com a declaração da OMC (organização mundial do comércio) colocando o Brasil como o 5o. maior fornecedor de commodities (matéria-prima) para Java. Como sou do contra, também não vou concordar com a informação dessa mesma OMC de que o Brasil é o 12o. maior importador de recursos naturais do mundo. Não concordo com esse 12o. lugar, me julguem.
Ninguém nunca sabe onde quero chegar quando começo uma lenga-lenga como essa aí de cima. Em geral quero chegar num lugar bem insosso e moluscal (úia! ato falho numa hora dessas?).
Ontem resolvi comprar um kit de roupa de cama feita de flanela, eis que as temperaturas aqui só despencam - pra contrariar, ontem à noite comecei a sentir o maior calorão, fui olhar a temperatura, estávamos a 10+.
Ao examinar aquele pacote com 2 lençóis e duas fronhas minha imaginação voou para lugares não muito agradáveis onde os javaneses fazem suas produções, podendo ser em qualquer lugar do planeta, mesmo aí do seu lado, viu? E minha mente retardada se fixou em porões de navios que vivem em águas internacionais, e minha mente quase ficou doentia quando imaginei "Sem-Orrr, que horas que esse pessoal lava as mãos?".
Com os dedos em pinça peguei o kit e botei na máquina de lavar, com água quente e sabão poderoso, depois botei na máquina de secar a uns 60 ou 70 graus, e só assim considerei que o kit estava livre de mãos pouco lavadas.
É complicado, amigos, é complicado.
Você quer colocar a sua cabeça num travesseiro vestido numa fronha que tenha tido uma procedência que não altere o seu estado mental, e não vê outra alternativa senão se tornar um maníaco e lavar, enxaguar, secar, esticar coisas que estejam talvez mais limpas que a cama onde serão usados, mas a sua mente não te deixa relaxar, a sua imaginação desfila diante de seus olhos as lágrimas, o suór e o sangue, a energia, e tudo o que além de fibras e material têxtil entram na composição da manufatura de um artigo singelo como este, um kit de dormir.
Para acalmar seu ânimo você vai pra cozinha e prepara um chá e tudo à sua volta, tudo, absolutamente tudo, é Made In Java, tirando o chá propriamente dito, que é de Nova Jersey. Péra! Plantações de chá em Nova Jersey?

"A história do chá começa em 2737 a.c., na China, com a lenda de Chen Nung. Em 1862 chegou à Europa como uma garantia de saúde e longevidade. Em 1890, o chá entrou na vida de Sir Thomas Lipton que passou a comercializá-lo em Glasgow, Escócia, ficando conhecido em toda a Europa..."

E o que mais me entristece - sim, o tom de hoje não está nada bom, mas isso não quer dizer absolutamente nada, só diz que é impossível falar sobre todas as coisas ruins do mundo com o melhor dos bons humores. Nem sempre é possível. Pois bem, o que mais me entristece é que a qualidade das coisas não é boa. E tende a piorar, já que o mercado aceita esse nível de qualidade.

Ninguém é obrigado a comprar nada made in Java, mas tem que estar de corpo e alma preparados pra morrer de frio e cozinhar numa fogueira no quintal.
Diante dessa cena descrita aí em cima, minha mente distorcida trouxe a imagem de Cristina Kirchner, a presidente da Arghhhhentina, numa foto toda sorridente (se é que aquilo é sorriso e não um esgar pós-cirúrgico), ao lado do presidente Ji Xinping, cuja legenda dizia "Java compra a dívida externa argentina".
Já viram esse filme em algum país da América Latina?
De uma tacada só  em junho de 2014 Java assinou 15 acordos com o Brasil, 19 com a Arghhhhhentina, 38 com a Venezuela e 30 com Cuba!

Senhoras e senhores, com licença que eu vou ali pro cantinho da sala bufar.